O Homem Branco teve um sonho frio durante uma noite quente, e em seus olhos era possível ver refletida a deformada figura de uma torre cinza, a repousar sobressalente em uma colina parda.
A pele de concreto frio da torre podre se ergueu por sobre os pés do Homem Branco como um cancêr, e em seu topo dentes lânguidos permeavam os lábios de uma boca negra, apontados para o vazio do céu como uma ordem ou como uma acusação.
O vento rugiu.
A forma gigantesca dos Galináceos de Néon Fosco ainda pairava sorrateira entre o Homem Branco e a torre cinza, com seus ossos ancestrais fosforescendo e sobressaindo de suas peles transparentes e de seus olhos úmidos. Os monstros percorriam as rochas de forma lenta e ereta, em busca de sua caça noturna. Predadores de natureza robusta, oriundos da radiação do mar e das estrelas, infectados pelo ardor de seu pecado original.
Naquele momento algo aconteceu: o Homem Branco percebeu um gosto estranho a lhe tomar as entranhas. Seu sangue ferveu e o ácido de bateria contido em seu corpo percorreu suas veias como veneno, deleitando seu coração como o vinho e abarcando sua alma como o mar. A este sentimento tão obtuso e tão assassino o Homem Branco concedeu o nome de SOLIDÃO.
E ele beijou sua solidão. E Ela lhe beijou de volta, como Judas.