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Abarcar o mundo ou abraçar o mar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Para ser Entoado nas Noites Sem Luar

Uma fada de asas amarelas canta uma triste canção, dentro do buraco no tronco do açaízeiro.
(Ela canta para mim e para minha morte iminente - afirma a Vaca)


Uma fada de asas transparentes perdeu-se em meu quintal, quando o sol se punha pela última vez antes de fevereiro terminar para sempre.
(Ela seguia o cheiro de mel e de virgindade - lamenta a Garota Impura)


Fadas costumam perder-se em meus sonhos, quando as noites estão frias e o meu calor não é o sufuciente.
(Isso é o que me faz acordar triste todos os dias - escreve o Falido Escritor)




Durante o equinócio de outubro, deixei-me perder em uma triste vila onde os habitantes nunca morriam. Todos eles caminhavam eternamente, despedaçando-se em membros podres e ocos pelas calçadas de cor cinza de seu vilarejo imundo, atolados em suas vidas já mortas e em suas memórias já velhas.
Lá, as fadas sempre deixavam suas marcas entre as rugas das peles das Senhoras e dos Senhores de muita idade, para os fazer acreditar que, em algum momento, todos os seus sacrificios teriam valido à pena e todas as suas dores e angustias, provenientes de uma vida longa e desnecessária, seriam, enfim, justificadas.


Sim, as fadas constumavam fazer isso.

Mas nunca existiu justiça e nenhum sacrifício nunca foi recompensando. Sacrifícios são deleites inúteis para um Deus insano e Justiça é uma protistuta que se abre para qualquer um em qualquer cama. No fim, nem mesmo todas as fadas do mundo têm alguma importância, mesmo as de cores mais retumbantes ou as de asas mais recatadas; as Senhoras e os Senhores sempre souberam, no fundo de sua dor inválida, que a morte nunca poupará sua desgraça e que a vida nunca valeu o vazio, o ódio, os anos infertéis em frente aos dias inúteis. É assim que todas as almas que escolheram estar entre os que caminham terminam seus dias, diz o Livro Daquele Que Jaz Sem-Coração Entre os Impúros.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O CIRCO - Capitulo Final - O ASSASSINO.

Enfim, termina o Segundo Ato, e o findar da Valsa pronuncia-se pela janela.


Meu nome, de fato, é Raoni Juan de Holanda-Maia, mas chame-me como preferir, meu bem. Nestes últimos meses em que estivemos juntos tentei ser agradável com você. Tentei ampliar nosso repertório de assuntos. Tentei não pisar nos seus pés até o termino do baile. Mas creio já estar velho demais para alguns destes constrangimentos.


(neste instante ele puxa a arma, pequena e com canos ainda frios. sua voz fraqueja)


Mas você não pareceu se esforçar o suficiente. Sim, estou ciente que me faltam algumas coisas como homem! Eu sei disso, e me pesa muito assumir o fato. Mas você há de convir que isso não justifica tuas faltas comigo (realmente muitas outras damas apreciariam estar em teu lugar).


Do outro lado do pequeno circo montado porcamente nas proximidades centrais desta Cidade-Porto, ouvem-se dois tiros desconjuntados. A monotonia do Vazio da Cidade é quebrada.
Esta noite, uma bela jovem morreu pelas mãos de um pretenso escritor desempregado. Ele esforçou-se para chorar ao vê-la caída sob seus pés, mas não conseguiu. Ele jogou a arma no grande Rio que corta a Cidade (esperando que as carpas eslameadas devorassem sua pólvora e sua culpa). Ele queria fugir daquele lugar terrível, onde todas as ruas levavam às mesmas esquinas, e todas as esquinas apontavam para os mesmos pontos. Mas ele sabia que, uma vez nascido alí, apenas a morte o levaria embora.

DEUS SALVE A RAINHA!

Impresso na gráfica dos Judeus-Sem-Pênis.