O mar salgado do Cairo esconde um segredo entre as dunas vazias e o vento selvagem: Jesus pendurado na cruz ressucitou como um navio de madeira maciça
para atravessar todo o mar e dividir toda a brisa.
Para naufragar entre os homens de grande cobiça.
Pois em seus sonhos Jesus desejou tornar-se um marinheiro
e não um cruscifixo,
cuja solidão seria partilhada entre as gaivotas e os peixes,
E em sua infinita tristeza, Jesus percebeu que somente os afogados compreendiam seu amor
inchados e sem face
no fundo do mar Egeu
Os homens mortos cujos lábios cospem sal e entoam canções de despedida para as esposas, as putas e os portos distantes.
"E Jesus se tornou um marinheiro quando andou sobre a água"
Quando sua dor não for demasiada
Jesus de Madeira pode ouvi-los cantando, uivando à lua, a doce canção do marinheiro morto:
"O marinheiro sem návio procura pela sereia em um gole de rum
Mas a sereia só ama o mar, e não procura marinheiro algum"
E se nós pudessemos ir a todos os portos
você iria comigo?
E se nós pudessemos beber em todos os copos
você ainda me amaria?
E se a solidão fizer parte de mim
Nós ainda poderíamos viver juntos para sempre?
E se nos fosse oferecida uma viagem dentro de Jesus de Madeira, e se o mar nos levasse até um lugar fora de todos os mapas, longe de todos os cartões de crédito e fora de todos os quartos seguros, você iria?
Você iria comigo?
E nós poderíamos viver juntos para sempre?
Como duas estátuas de madeira navegando sobre o mar salgado