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Abarcar o mundo ou abraçar o mar.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

O CIRCO - cápitulo primeiro: A MULHER-DIABO



Deixe-me apertar tua mão, Moça.
(ARRANCO MINHA PELE E ESTENDO DIANTE DE TI)
O vento que traz o Circo é o mesmo que traz a gargalhada do Diabo.
(VOCÊ CHUPA MEU SANGUE, MAS POR QUE NÃO ME MATA?)

Enfim, as farpas finais de julho fazem cair as flores pelo chão próximo ao jambeiro. O mês não tarda a findar-se.
Sete carroças velhas atravessam a cidade, enquanto o sol insiste em morrer de novo, sob o céu vermelho atrás do muro.

OFÉLIA DORME AGORA NA CARROÇA NÚMERO CINCO.

A espreita, na floresta escondida atrás de meu vilarejo, o Diabo está a tua espera e de toda a tua companhia.

POBRE OFÉLIA E O CIRCO DE TEUS HORRORES SEM FIM!

Sob as curvas de tuas pernas, tuas coxas, tuas uvas, o Diabo permanece montado sobre suas quatro patas, a tocar-te, procurando, salivando, pela entrada de tuas carnes. Ele espera retirar vinho de dentro de ti, pois o Diabo sente sede.

Ofélia, agora mulher de poucas falas, dá ao Diabo sempre tudo, tudo que ele pede. Eu peço apenas que ela sorria comigo. Mas Ofélia prefere caminhar ao lado dele. cavalgando por seus chifres-amarelo-arranhados. Espetando-se em seus pelos de Bode-Preto.

Na noite que se segue, o Circo de Teus Horrores sem Fim! está a estabelecer-se no quintal descampado desta Cidade-Porto, à sombra das palmeiras podres do prefeito.
O horror da novidade é tudo que eles trazem até mim, que fujo, corto, cago, corro.
Ofélia me oferece uma canção em troca de meu Coração (Vazio).

Chora então, por não ver a lua naquela noite, Dona Rosa, com pés-de-porco.
Choro eu, lagrimas-de-vento. Não morro hoje. Não morro moço.

Deixe-me apertar tuas coxas, hoje ao menos, Moça. Ofélia.
(ARRANCO-ME OS CABELOS E OS ENGULO SEM QUE ME VEJA)
Meu amor por ti é a sede do calor do inferno.
(ESCOLHEU BRILHAR EM OUTRO CÉU, MEU BEM, MAS POR QUE, POR QUE, NÃO BRILHOU PRA MIM?)

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O Vômito!

Todos os dias seu vômito escorre até o Rio Amazônas.
Toda a dor, angústia e frustração que corrói sua alma, e que você engole ao decorrer de cada longo dia, e posteriormente excreta, com violência, ao desabar de cada curta noite de seu repouso, ganha vida, e escorre até o Rio, atravessando toda a cidade e juntando-se as excretas de seus pais, seus amigos, e todas as pessoas que você conhece.


Você chega após um dia de indesejada labuta. Um dia cansativo em sua vida inúltil. Distrai-se no circo. Distrai-se com livros tolos (se é que ainda se conserva este hábito). Distrai-se com sexo. Toma sopa e bebe um chá quente. vai até a janela e VOMITA JUNTO COM TODOS OS OUTROS CORAÇÕES VAZIOS DESTA CIDADE.

Seu vômito, assim como o de todos os outros habitantes deste pequeno lugar, aglutina-se na Praça Central, durante a fria madrugada, sob os olhos traiçoeiros da estátua rachada de Edimond Duraert, o capitão-fundador-esquecido desta Cidade-Porto. As excreções ambulantes aglutinam-se primeiramente em um Parlamento Vomitorial de Extrema Urgência (P.V.E.U.) para discutir sobre sua existência vomitêsca . Após as solenidades, todos eles escorrem vagarosamente até a borda sudoeste do Rio Amazônas. Dançando-se aos rebuliços, retraindo-se ou expandindo-se em direções opostas, aos poucos a Massa Vomitorante dilui-se junto às barrentas águas do extenso Rio. Eles penetram na terra. Eles encontram o encanamento da Cidade. Eles percorrem o subterrâneo desesperandamente ao SEU encontro.

Você acorda após uma noite de sono inúltil em sua vida descartável. O sol grita ordens desesperadas sobre sua eterna e odiosa rotina: o trabalho o chama (você precisa sustentar a vida que NÃO gosta, do jeito que você NÃO planejou). Você banha-se nas águas que jorram do chuveiro. Você bebe a água que provêm de sua torneira. Sem perceBER, VOCÊ ENGOLE DE NOVO TODO O VÔMITO DA NOITE ANTERIOR.

Sendo assim, você mantém o ciclo da eterna inércia que sustenta a vida desta Cidade-Porto. VOCÊ MANTÉM O CICLO DA ETERNA DOR QUE SUSTENTA SEU CORAÇÃO VAZIO.

fim do 1º ato

DEUS SALVE A RAINHA!

Impresso na gráfica dos Judeus-Sem-Pênis.